Entre picos e vales

O cume e a parede da sala

Depois da primeira experiência na montanha, demorei um bom tempo para subir outra. Afinal, meu medo me dizia que se não havia morrido nessa, poderia ser na próxima (haha…) – dramático e engraçado, mas uma sensação real na época!

Essa história começa em 2010, quando subi o primeiro morro. O trajeto foi lindo. Caminhada na mata nativa, cheiro de terra, barulho dos pássaros! Até aí tudo confortável para uma interiorana que adora natureza. Mas também foi muito desafiador!

O cansaço não chegou a me paralisar, o coração acelerava como em qualquer exercício mais intenso. Mas o medo altura… Puxa, esse fica até difícil descrever!! Uma “escadaria” de grampos na rocha fez eu descobrir o tamanho desse medo!

Chegando ao cume, jurei que não desceria pelo mesmo trajeto – tamanho era o pavor de sentir aquilo de novo. Acabei, claro, tendo que voltar com o grupo exatamente pelo mesmo caminho. Desespero! Sério. Aquilo não tinha graça nenhuma, NENHUMA!

O que não contei dessa primeira aventura é que ao chegar ao cume, o tempo fechou de vez!  A paisagem era um fundo branco como a parede de uma sala qualquer. E não vi absolutamente NADA! A foto, em um fundo branco, não traduzia uma grande conquista. 

(Por isso, a capa é meramente ilustrativa. Uma conquista posterior e escolhida para não desmotivar vocês! rs…).  

Vista do Pico Caratuva. Ao fundo o Pico Paraná, montanha mais alta do Sul do Brasil, quase encoberta pelas nuvens. Mudanças naturais do tempo cobrem rapidamente a paisagem!

A vista branca poderia até ser apática, mas a sensação, não mesmo. O vento, a brisa, a sensação de liberdade, de medo, de superação! (Palavras que justificam o que virou verdadeira paixão anos depois!)

É no topo da montanha que tudo parece realmente distante. Mas que, por ironia, posso alcançar com meus próprios pés! É onde se ouve o barulho do vento, da respiração, da tranquilidade. É onde toda aquela imensidão generosamente nos faz sentir grandes também – e diminui com gentileza o peso dos nossas inquietações.

O cume ainda é um dos lugares onde mais sinto vontade de estar. E foi vendo a tal “parede da sala” naquela primeira aventura pavorosa que tive um ensinamento pra vida!

Naquele dia aprendi a curtir cada passo da subida, porque qualquer expectativa é em vão. Aprendi que quando o dia nos presenteia com a vista clara e ampla do horizonte, nos resta agradecer! E se não der, tudo bem, podemos voltar outro dia e tentar de novo.

Afinal, em uma foto,  a parede da sala pode até substituir o cume de uma montanha, mas nunca vai dar a sensação que o caminho até ele te traz! 

PS: valeu a pena subir outras tantas vezes, nunca mais tirei a foto de uma parede branca! rs….